Enquanto a era da web 2.0 e da multisensorialidade bomba, parece que somos seduzidos pela pirotecnia permitida pelos recursos gráficos ilimitados e o arsenal de softwares profissionais de fácil acesso. Tendemos a deixar de lado a essência da funcionalidade e da consistência da forma, quando nos deparamos com um projeto de identidade visual. Com isso, o equilÃbrio entre estética e a funcionalidade é afetado, afinando a linha entre o design e a arte experimental.
BoomBip, do grupo ehquestionmark. 2007. Design ou arte?
Na época da prancheta, os sinais e sÃmbolos eram precisamente estudados e desenvolvidos para que suas replicações fossem fiéis. Conceitos tradicionais de proporções áureas, formas geométricas básicas e grades de construção dificultavam, e muitas vezes limitavam a representação de idéias, mas eram necessárias para que as distorções do processo manual fossem minimizadas. Naquela época, praticamente toda a idéia por trás de uma marca era sintetizada em um sÃmbolo de fácil reconhecimento visual, já que praticamente o que podia se chamar de mass media era o papel. Assim, a genialidade era atingida com muito esforço, invisivelmente aparente em um pequeno espaço monocromático.
Victoria & Albert Museum, de Alan Fletcher. 1989.
Light, de Aloisio Magalhães. 1966.
A partir do momento que a curva francesa se transformou na bezier tool, o processo se acelerou, dando tempo e espaço para mais variações de cores, tonalidades, efeitos, sentidos e acima de tudo tendências. Os avanços tecnológicos nos dão cada vez mais veÃculos para aplicarmos a crescente necessidade de branding, ilimitando cada vez mais as possibilidades para a representação de uma identidade. E assim o cross-media quebra os paradigmas de que uma identidade corporativa se consiste somente um sÃmbolo gráfico, geometricamente harmônico e legÃvel.
Sony Ericsson, de Takuya Kawagoi. 2000. SÃntese gráfica do “S” e “e”, apoiada por efeitos da era digital.
Innocent, do escritório Deepend. 1999. Minimalismo amolecido pelos traços de brush.
Firefox, de Daniel Burka e Stephen Desroches. 2004. SÃntese gráfica, coerentemente decorada com o visual da web.
Estilos vão e vêm, não podemos negar. Mas temos que tomar cuidado para não usar isso como desculpa de que um estilo se tornou “velho”, pra descartar processos necessários para a conceituação de uma marca. Para poder inovar, é preciso recorrer à raÃz, e buscar a essência da funcionalidade do conceito e eficiência na representatividade. E aà sim, em cima disso trabalhar na estética inovadora que vai ser o diferencial que todo mundo quer, nesse mundo competitivo.
Eu nunca deixo de consultar os almanaques das chamadas “vintage logos“, atrás de inspiração para novos projetos. A simplicidade e a sÃntese alcançada nos monogramas da velha guarda suÃça e de mestres como Otl Aicher, Alan Fletcher, Paul Rand e AloÃsio Magalhães são um exemplo que nunca devem morrer na arte mutante de criar identidades visuais.